segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Pseudônimos - Loucura, Memórias

"Estava deitado há mais ou menos meia hora, mas se não fosse o relógio fracamente iluminado pela televisão muda, ele diria que estava ali há horas a fio...


Recitava para si mesmo as listas de afazeres do outro dia, tentado encontrar o sono, que o levaria pra longe da loucura que vivia. Mas não importava o quanto enveredava por assuntos burocráticos, seu pensamento sempre voltava para o que ele devia esquecer.


O que mais o incomodava era saber que esqueceria. E esqueceria mais fácil do que queria que fosse. Ele queria, no fundo (fundo o bastante para ele jamais confessar em voz alta), que não esquecesse. Que por fim enlouquecesse e desse motivo para suas razões. Talvez, se fosse constantemente atormentado, ele resolvesse lutar de novo. Nunca se importou com seu orgulho, e nunca achou ruim se rebaixar um pouco quando coisas do coração estão em jogo.


Mas daquela vez não. Ele não podia se dar ao luxo de repetir o mesmo erro três vezes. Nem mesmo ele era tão tolo assim, e mesmo que doesse confessar, o caminho de seu destino era paralelo ao dela, e nunca se encontrariam, apenas veriam o caminho um do outro de longe, sem nunca se entrelaçar. Continuar sonhando depois de acordar e descobrir que era um sonho, era doloroso demais pra ele.


Sabia que não dormiria àquela hora, e ficar deitado na semi escuridão tornava seus fantasmas mais assustadores; resolveu tomar outro banho, rezando para que a água quente levasse o que ele não conseguia esquecer.


No banheiro, mirou seu rosto no espelho e assustou ao ver-se sorrindo. Sorriso triste, o qual os olhos vermelhos não acompanhavam, e que o teria deixado com medo se fosse uma terceira pessoa. O cabelo, com resquícios de gel estava desgrenhado, amassado pelo travesseiro e pela mania de ficar mexendo nele com as mãos. A barba, toscamente recortada estava perdendo a forma novamente, mas não se animava em fazê-la agora. Olhou suas mãos, desacostumadas com trabalho duro, lisas e sem calos, típicas de quem trabalha em escritório. Ele, como ninguém, sabia que essas mãos quando pequeninas, tinham feito mais trabalho pesado que muita gente jamais vai fazer na vida.


Olhou mais uma vez no espelho, odiando o que via. Feio, desengonçado, esquisito. Seu sorriso triste já se tornava uma mascara de ódio. Odiava a si mesmo, por que era incapaz de odiar o que o cercava. Daria um braço pra dispor de um pouco de desprezo e arrogância. Daria uma perna para nunca mais sentir compaixão, simpatia, e principalmente amor por alguém. Deixar esse mundo mesquinho era sua missão. Haa, se houvesse nele a coragem necessária para acabar com a própria existência. Não havia em vida uma forma de mudar o que era, e era um poço tudo o que faz um homem sofrer.


Sentiu a boca amarga e começou a esmurrar a parede, para ao mesmo tempo, descarregar a raiva e machucar a si mesmo, para provar como era fraco. No terceiro murro, seu estomago girou, e caindo de joelhos vomitou dentro do vaso uma substancia verde amarelada, que achava que era produzida no fígado. Nada mais havia para vomitar, já que nada tinha comido. No chão, limpando a boca, sentiu-se calmo de novo, mas agora, mais apavorado que antes. Respirava rápido, e usava toda a força de vontade que tinha para manter dentro do olho uma lágrima que teimava em sair. Enxaguou rapidamente a boca na torneira, despiu-se e sentou embaixo do chuveiro, recostado na parede fria, deixando que a água quente se misturasse com meia dúzia de lágrimas que lhe escaparam. Chorava em silencio, mesmo que ninguém pudesse vê-lo ou ouvi-lo. O mínimo de honra que lhe restava pedia discrição, mesmo que ele quisesse arrancar o box e jogá-lo contra o espelho. Ficou ali por alguns minutos, o bastante para acalmá-lo e torná-lo de novo a criatura pacífica e inofensiva que era (ou acreditava ser). Levantou-se, fechando o chuveiro e puxando a descarga. Saiu do banheiro vestindo o roupão, foi até a geladeira e tomou um gole de leite de soja diretamente na caixa. O que não daria para ter cerveja ou algum destilado em casa.


Exausto, foi para a cama, e se envolveu na terrível escuridão que já o assolava. Adormecendo, percebeu que ventava lá fora. Pensou ouvir uma risada familiar e arrepiou-se. Será que nem em sonhos, essas lembranças deixariam de atormentá-lo?"


Tomás Antonio Ferreira




Finalmente, Tomás Antonio Ferreira está de volta. E dessa vez, sua inspiração está maior do que jamais esteve.

Não que isso seja uma coisa boa. Porque definitivamente, não é...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

De repente: Ciúmes!

O que o dicionário diz sobre o ciúme?


ciúme

s. m.

  1. Receio ou despeito de certos afetos alheios não serem exclusivamente para nós.
  2. Inveja.
  3. Receio.


Tenho certeza absoluta que o responsável por essa definição não estava “enciumado” no momento que escreveu. Se estive mordido, ficaria mais ou menos assim:


ciúme

fdp.

  1. Receio se a vagabunda que eu amo ta me metendo um par de chifres com o maldito do vizinho.
  2. Vou matar ele.
  3. Não, vou matar ela.
  4. VOU ME MATAR.

Bom, piadinhas infames a parte, como o ciúme pode interferir em nossos relacionamentos?


Em qualquer relacionamento ele tem um papel importante e muitas vezes, irritante. E pode ser qualquer tipo de relacionamento, entre os pais, ciúmes dos irmãos, dos amigos, e até do seu cachorro. Mas agora o que me interessa é o ciúme que vem com a paixão carnal!


Eu sou ciumento. Muito. Tipo, muito mesmo.


Primeiro a raiva!!! Não dura muito, em uns três minutos já se tornou tristeza. Depois, insegurança. Aquele questionamento íntimo de: Será que sou melhor que possíveis rivais? Se a situação for muito intensa, já começa a suar.


E é nesse momento que separamos homens de meninos. Todo mundo que sente ciúme passa por coisas assim. Se você só se incomoda um pouquinho, não é ciúme, é frescura.


Mas como as pessoas agem depois disso? Algumas se encolhem e questionam suas qualidades por um tempo. Algumas relevam com facilidade e esquecem. Alguns, como eu, tentam pensar em outras coisas para que o ciúme não se torne desnecessariamente prejudicial, por vezes deixando escondido. Mas o tipo mais interessante de ciúme é o alucinado, irracional, violento. Que faz dois amigos saírem na mão, duas amigas se descabelarem e, na pior das hipóteses, faz o cara sentar o braço na amada ou a garota tocar fogo nas cuecas e colocar sal na cerveja do amado (isso é mesmo horrível).


Mas não desanime! Ciúmes têm, claro, seu lado positivo. Ele impede a sensação de amor definitivamente conquistado! Faz com que o amor e o sexo sejam mais fortes e intensos. Isso é claro, só acontece em doses pequenas e manejáveis.


Mas quando é exagerado... BUUMM! Pode acabar com a vida de uma pessoa. E foi muito usado na literatura.


Em “Otelo”, de William Shakespeare, que eternizou a frase: “ciúme é um monstro de olhos verdes”, Otelo mata sua mulher por causa do ciúme.

Em “Dom Casmurro” de Machado de Assis, Bentinho morre sem saber se Capitu o traiu com o amigo, Escobar.


Noventa e nove por cento das situações que nos causam ciúmes é ridícula, e não merece atenção. O jeito é não fazer a besteira de agir com a cabeça quente, pois é muito provável que nada do que essa sua cabecinha doente pensou aconteceu realmente.


A menos que tenha acontecido, e você foi traído. Mas isso já é outra história...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Apenas mais um sonho...

Hoje acordei com vontade de escrever, e ao abrir os olhos, frases desconexas e sem sentidos começaram a sair da minha boca:


- O sonho é o maior prazer do sonhador. O despertar é como a morte prematura de seu mundo particular.


- Se um dia eu tiver que ser punido por algo que fiz, que não seja por amar demais.


- Se a loucura é a fuga da realidade, pra onde fugirei da loucura?


Isso me preocupa.


Hoje, ao andar até o trabalho, ouvi músicas. As letras e as melodias cantavam de dentro pra fora, e a poesia passou a fazer sentido.



Isso também me preocupa.


E essa noite eu sonhei. Havia guerra e sangue. Eu sentia ódio, e meu coração queimava. Alguém tinha roubado o que eu tinha de mais precioso. Eu ainda posso ver rostos nunca vistos, rindo e zombando da minha dor.


Mas era um sonho.


O que eu havia perdido, voltou. E eu amei, até na hora de despertar. Feliz, completo. Acordei em lágrimas, com uma complexa mistura de dor e alegria. Levei alguns minutos pra perceber que voltara a realidade.


E agora vou passar o dia na minha vida normal e simplória. Aqui, onde fica a engrenagem do mundo, onde dinheiro é batalhado, e homens frios são criados. Agora é hora de engolir as emoções e sentimentos, e deixar o cérebro e os braços trabalharem.


Deus sabe o que lutei pra suprimir minha personalidade pelo meu próprio bem. Demorei pra ver que o que me faz mal é tentar ser diferente.


Ora, amaldiçôo essa COVARDIA passada. O futuro tento ignorar. Imaginar o que me espera, e o que o futuro vai tirar de mim, é como esquecer como se respira. Então, pra que pensar?


Dizer que apenas o presente merece atenção é tolice, mas é AGORA que eu vivo, o amanhã temido ou desejado pode jamais acontecer, ter esperanças vazias é inútil.


Mas me permito sonhar, pois em essência é o que sou; resultado de sonhos. E se acho que vou enlouquecer, tenho ótimas lembranças pra que trazerem de volta. Por mais fácil que pareça então morrer, preciso continuar vivendo, para que as lembranças não morram comigo.