terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O homenzinho...

Estive doente esse fim de semana. Uma mistura da minha horrível enxaqueca com dor de cabeça normal.

E claro, como qualquer pessoa normal, com dor e sozinho, após tentar espantar a dor batendo a cabeça nos móveis, e tentar arrumar companhia, ambos sem sucesso, resolvi dormir um pouco. Deitado, comecei a ter algumas alucinações sinistras, então tive que levantar e escrever um pouco pra poder descansar. Saiu isso:



“Era perto do meio dia, e ele estava sentado em sua mesa, olhando pela porta entreaberta, que só se abria em dias de intenso calor. Sentia seu tão familiar nó na garganta. Lá fora, além dos carros do estacionamento a vida corria como deve ser. Como acreditam que deve ser. Não pra ele.

Ele não nutria esperança, exceto aquela que se escondeu fundo em seu coração, a qual ele não conseguia matar. Ele podia sonhar como qualquer homenzinho, e como um homenzinho qualquer, ele era triste.

Triste, e isso era enraizado nele. Custariam-lhe horas de alegrias para dizer-se feliz, e apenas um segundo de solidão para ver-se abandonado.

Milhares de abraços talvez o convencessem de uma amizade, mas um olhar torto, ou uma palavra pesada já magoava o homenzinho.

Por isso, o homenzinho estava sozinho. Sua única eterna companheira era a auto piedade, que o tornava tão mesquinho e covarde. Por isso, o homenzinho merecia ser infeliz. O homenzinho era digno de pena.

Digo era porque o homenzinho morreu. O homenzinho morreu ontem, e está morrendo hoje de novo. Certamente o homenzinho morrerá também amanhã. E é fato que o homenzinho acabou de nascer dentro de alguém.

O homenzinho se alimenta de sua passividade. Ele se alimenta de sua insegurança, de sua covardia. O homenzinho se alimentará de você, e logo você será como o homenzinho do começo da história, sentado, passivo, com a garganta dilacerada pela dor de ser inútil e não poder nem mesmo chorar.

Chorar nunca, porque um homenzinho não chora. O homenzinho não pode mostrar seus sentimentos, por isso o homenzinho é tão azedo e sozinho. O homenzinho aceitará o que você diz, mas pela suas costas o homenzinho dirá: “Palhaço! Esse aí é mais um dominado pelas emoções. Esse aí jamais terá um celular como o meu”. Mas o homenzinho não usa seu telefone novo, porque o homenzinho não tem com quem falar.

Mas tem um momento em que o homenzinho sorri com sinceridade. É quando outro homenzinho nasce. Quando sua amargues consegue amargar outra pessoa. E é assim que os homenzinhos se reproduzem.

Para matar um homenzinho, cada um tem sua hipótese. A mais aceita é que faça com que o homenzinho ame, e que se ame o homenzinho. Ora, não é fácil amar um homenzinho, pois os homenzinhos podem parecer asquerosos. É claro que podem ser os maiores amantes, caso você consiga amar o homenzinho.

Mas se fizer um homenzinho amar você, e você não amar o homenzinho, é terrivelmente pior do que dar comida pra um Mogwai depois da meia noite.”



Pois é, estranho não? O que eu mais estranhei foi: Como que ainda lembro o nome dos Gremlins antes da transformação???

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Verso da Segunda Folha...

Sorria. Era alegria, sim. Alegria real e palpável, como ele sempre imaginou que deveria ser. Mas sorria triste também, e um ou outro suspiro escapava. Não sabia dizer por que, e se imaginava, guardava tão fundo que nem pra si confessaria.

Tocou o seu rosto e a abraçou, pra ter certeza que aquilo era real. Ela também sorria, e seus olhos negros o fitavam com tanta doçura que ele teve medo de perder o controle. Respirava mais firme agora que tinha um motivo pra respirar. Em um abraço, sentiu seu corpo quente e seguiu o movimento da sua respiração. Inspira. Expira. Inspira. Expira.

Apertou um pouco mais forte seus braços, e não reclamaria se aquele momento durasse uma ou duas eternidades. Ele a amava, e seria pra sempre. Ele soube disso e se assustou, pois a amaria hoje e amanhã. A amaria no fim e depois do fim.

_ Eu te amo pra sempre. E depois disso! – e ele nunca tinha dito, e nunca mais diria nada com tanta certeza. – Eu te amo. – ouviu em resposta, e suspirou. Suspirou apenas por achar necessário. Suspirou apenas porque o ar que chegava aos pulmões era insuficiente.

Despediu-se com um beijo, e disse mais uma ou duas (talvez quarenta) vezes que a amava. Esperou que ela fechasse o portão e lhe virasse as costas para sorrir de novo. Um sorriso enviesado, apenas com o canto direito da boca. Seu coração apertava-se estranhamente toda vez que a deixava.

Deu de ombros, colocou os fones de ouvidos e encarou a rua escura por onde teria que voltar. A música estourou em seus ouvidos, e o caminho foi bem mais curto:

“I was looking back on my life

And all the things I've done to me

I'm still looking for the answers

I'm still searching for the key”

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Novo... De novo!

Novo layout para um novo momento da minha vida.

Novo e melhor, pois hoje vejo o passado triste apenas como uma lembrança que fica cada vez mais fraca.

Melhor porque, se hoje amo, posso dizer que amo!

E eu amo!

Logo logo postarei historias mais felizes dos que as que costumam passar por aqui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Conto: Tolo

_ Você pode ver? – gritou enquanto apontava para o céu pobre de estrelas. - Você vê como elas iluminam? São belas sim, são belas, mas não se importam. Elas revelam sua beleza para qualquer homem que olhar pra cima à noite. E não se importam que nos apaixonemos por elas, mas nunca possamos tocá-las.

_ Você vê esse rio? – sussurrou enquanto apontava para a forte correnteza que gritava a sua frente. – Ouve o canto que te chama para mergulhar nessas águas? Sente a brisa que toca sua pele? Veja, veja! O luar! A lua se esconde em meio a essas ondas... Você quer tocá-la, não quer? Quer mergulhar e tomá-la nos braços. Mas você não sabe nadar! Seria culpa do rio se você se afogasse? Ou seria culpa sua, por entrar numa correnteza que sabia ser perigosa?

_ Tu vê aquela rocha? Aquela negra, que repousa no leito do rio? – Disse apontando a pedra que se distanciava da margem a distancia de três passos de um homem adulto. – Aquela é uma cadeira de sereias, é sim! Lá se senta a perdição dos homens... A sua perdição, porém, não é a sereia. É a pedra. Você, que coloca sua sereia sobre ela, e contempla sua beleza por todas as longas Eras. Quer ouvir sua voz, tão suave seu canto. Talvez com a brisa gelada do rio, possa sentir seu cheiro por além do véu da saudade. Mas, se fechar os olhos, e seu barco se despedaçar na rocha, será culpa dela, ou sua? Não foi você que acreditou que havia magia em uma simples rocha?

_ Você consegue enxergar agora, meu Coração? – Suspirou, sentando na grama úmida pelo orvalho, com a mão sobre o lado esquerdo do peito. – Você pode ver como são simples as coisas que você enfeita? Como são mentirosas as suas verdades? Como é cruel o mundo para os homens que deixam seus Corações falarem mais alto? Mas você acredita em destino, querido Coração. Você acredita no amor, mas você não mais é jovem. Queria eu insultá-lo: Inexperiente, covarde! – mas não posso, pois isso não és. És tolo, talvez, mas não covarde.

Deitou-se, com as mãos sob a cabeça, olhando para o céu. Nuvens de chuva foram trazidas pelo vento, e cobriam todo o firmamento até onde sua vista alcançava. – Olhe meu querido. As estrelas se cobrem, tímidas. Agora apenas seus amantes podem vê-las. Elas se apiedaram de nós, se esconderam, mas eu já sinto falta. Olhe, meu querido, elas também sentem nossa falta. Elas choram...

Impassível e indiferente, a chuva caia em lufadas. “Lavar toda a Terra, um pedacinho de cada vez” era a única coisa que ela dizia, com sua voz de trovão. Sabia, pois algum dia talvez tenha sido um deles, que devia haver sobre o verde algum romântico deitado, sonhando e flagelando o próprio coração. Mas não pensava nisso, afinal estava tão perto de suas amantes, as estrelas. Elas sorriam pra ele, dançavam, e piscavam sem descanso. Logo, elas o amavam, certo?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Contos: Escolhas

Sentado, abraçado com minhas pernas, ergo os olhos e vislumbro o horizonte, no brilho do sol nascente. Nuvens negras pairam sobre mim e o sol nasce pálido, sem esperança, mas sempre firme.

Olho a água, que se estende para além de minha visão, até o infinito. Alegria e tristeza minha, calmaria do oceano. Toca a praia com seus dedos de prata, e com sua espuma desenha seus desejos na areia imóvel. Com meus dedos, escrevo poesias.

O vento sopra forte, acaricia meu corpo, e me traz a brisa fria e salgada do mar. A maresia se mistura com uma lágrima que teima em riscar meu rosto já cansado.

Olho pra cima. As nuvens cobrem o sol, e já sinto saudade de casa. O horizonte não parece tão lindo agora que ouço as vozes que me chamam.

Mas não desvio o olhar. Não até ver o que espero brotar da água salgada, mesmo que não saiba o que é. Levanto-me, e já sinto dificuldade em ficar ereto. Molho os pés na água, e meu ânimo retorna. Distancio-me da margem apenas o suficiente para contemplar a imensidão do azul. Um raio de sol rompe as nuvens sobre mim, e sinto uma mão no meu ombro. Fecho os olhos: _Você não é real, não quero sair – eu digo num sussurro. A presença se vai e me deixa sozinho novamente.

Sento-me, olho pro mar. As ondas aumentam e diminuem ao sabor do vento. Saco do bolso um caderno surrado, mas não encontro caneta. Volto a escrever na areia com um sorriso conformado, enquanto o vento apaga minhas palavras mais antigas. O vento apaga minhas memórias, e nenhuma marca deixo na areia e no oceano. Exceto por uma ou duas gotas salgadas como o mar que o sol se encarrega de secar.

Tomas Antônio Ferreira

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pseudônimos: Diálogo

Bateu o copo na mesa com mais força do que deveria, enquanto fechava os olhos:

_ Amor? Já beira a obsessão, o vício! Beira a insanidade. Mas sim, há amor... Se não houvesse, já teria enlouquecido.

_ Pode ir parando. Que drama, nada pode ser tão forte assim. Não na vida real!

_ Tsc... Saberia, se estivesse na minha pele. Mas tens sorte de não estar, e eu também tenho. Eu não reclamo nem troco isso por nada. Se minha historia tem que ser de desesperos e alucinações ela é a felicidade que se esconde nas entrelinhas. Ora, tenho que aproveitar antes que a página vire.

_ Cara... Nada assim pode começar de uma hora pra outra.

_ Bom, se eu e você acreditássemos em destino, diria que ela é o meu. Diria que não começou de uma hora pra outra, eu já nasci esperando alguém, e era ela. Diria que tudo o que passei foi para aprender a apreciar seus defeitos e qualidades. Se pensássemos em Deus assim, diria que Ele a criou para eu parar de dizer “amor” em vão.

_ E quantas vezes você disse isso a ela?

_ Nenhuma. Não com essas palavras. Não com palavras, melhor dizendo.

_ E por que não? Se sente isso, se pensa isso... Você tem que dizer! Antes que... Sei lá... Antes que perca a oportunidade.

_ É, eu sei... Mas se eu disser... Primeiro que perto dela perco grande parte do meu poder de raciocínio. Nunca conseguiria me lembrar dessas palavras. Mas o maior motivo... Palavras podem mentir... Palavras mentem. Como eu provaria que estou dizendo a verdade? Como poderia fazê-la confiar em mim? Ela tem que saber que minha vida é dela, sem eu dizer nada.

_ E como fará isso?

_ Não farei. O tempo fará, ou não... Só posso esperar e torcer para que seja visto em meus olhos o que não digo.

_ Bom, não vou te dar conselhos, nem dizer como deves agir, mas acho que isso é loucura. Em seu lugar diria tudo o que sinto e deixava rolar, para ver o que acontece.

_ Meu amigo, se estivesse em meu lugar, já estaria doido.

Levantou-se, perdendo um pouco o equilíbrio. Bebi demais – pensou. Com um leve tapa no ombro, despediu-se do amigo, deixando sobre a mesa do bar uma nota de 10 reais que pagaria parte das cervejas e saiu para o ar quente da noite.

Meteu as mãos no bolso e foi para casa, louco por um banho, torcendo para não ter dito baboseiras demais.



Tomas Antonio Ferreira

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pseudônimos: Um Andar Solitário Entre a Gente...

Às vezes o temor que a gente sente não pode ser libertado da maneira normal, pensou ele, enquanto se recostava na proteção da ponte, olhando o pequeno riacho caudaloso que passava em baixo. A sua volta a vida seguia seu ciclo normal, e milhares de pessoas moviam-se ordenadamente rumo ao tão incerto e tão comum. Sabia, e tinha plena certeza disso, que não pertencia aquele exército. Não era arrogante o suficiente pra se sentir especial, apenas se sentia diferente. Já não devia chorar, então ria com nervoso e tentava imaginar onde a vida iria parar. O fim lhe parecia deliciosamente tentador, mas assumir isso era assumir que desistira, e ainda não completara ali o que achava que tinha que fazer.

De qualquer maneira estava sozinho. Sozinho, como se estivesse vivo há séculos e fosse o último da sua espécie. Como se tudo o que conhecesse tivesse esfarelado em frente aos seus olhos. Que seu sonho jamais houvesse existido.

E não existiu.

E assim, ele sorriu. Meio nervoso, meio feliz, meio preocupado. Sabia quem era e o que queria. Contou com uma ajuda especial pra isso, é claro, mas não se preocupava mais em fazer as pessoas verem quem era. Sabia o que queria, isso bastava. Mas é claro, não contava a ninguém. Ora, estava em seus olhos, em sua voz... Se você não vê o que eu sinto, não merece mesmo saber – costumava dizer.

E hoje, assumira, estava viciado. Não, não podia dizer amor (as pessoas se assustam com essa palavra), e não era só paixão. Como uma droga, seus momentos de abstinência eram longos demais. Quando a tinha, o tempo (esse safado) passava rápido; horas em instantes...

Assim sendo, sobrevivia pela vida, apenas com a esperança do próximo encontro. Era meio doentio e enlouquecedor, ele sabia, mas qualquer risco de enlouquecer era válido pelo simples fato de poder tocá-la ou vê-la sorrir. E se esse sorriso fosse causado por ele! Haa, seu próprio sorriso estava ganho.

Temeu, por um tempo, que esse seu vício (porque amor é uma palavra que assusta) pudesse causar qualquer tipo de mal àquela a quem ele queria ver sorrir. Não causaria...

A felicidade dela era seu único objetivo, e mesmo que causasse mal pra ele (e ele sabia, uma hora causaria) jamais pediria nada, jamais diria nada que magoasse ou chateasse, e caso se sentisse mal, não mais deixaria ela saber.

Abria mão se sua liberdade, pois sua felicidade era apenas vê-la feliz. Sobreviveria ao seu lado até mesmo quando sua ilusão acabasse (afinal, todos precisam de amigos fiéis). Não se sentia mal por isso, mesmo que ao mundo parecesse tolice. Simplesmente não se importava.

A única coisa que ainda lhe chateava era saber que nunca poderia dizer de novo: _Eu te amo (isso porque amor pode assustar muito as pessoas).

O celular tocou inconvenientemente, perguntando por que ainda não estava no escritório. Por que estava sonhando, ele pensou, mas isso não é uma coisa que as pessoas entendam.


Tomas Antônio Ferreira