sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Contos: Escolhas

Sentado, abraçado com minhas pernas, ergo os olhos e vislumbro o horizonte, no brilho do sol nascente. Nuvens negras pairam sobre mim e o sol nasce pálido, sem esperança, mas sempre firme.

Olho a água, que se estende para além de minha visão, até o infinito. Alegria e tristeza minha, calmaria do oceano. Toca a praia com seus dedos de prata, e com sua espuma desenha seus desejos na areia imóvel. Com meus dedos, escrevo poesias.

O vento sopra forte, acaricia meu corpo, e me traz a brisa fria e salgada do mar. A maresia se mistura com uma lágrima que teima em riscar meu rosto já cansado.

Olho pra cima. As nuvens cobrem o sol, e já sinto saudade de casa. O horizonte não parece tão lindo agora que ouço as vozes que me chamam.

Mas não desvio o olhar. Não até ver o que espero brotar da água salgada, mesmo que não saiba o que é. Levanto-me, e já sinto dificuldade em ficar ereto. Molho os pés na água, e meu ânimo retorna. Distancio-me da margem apenas o suficiente para contemplar a imensidão do azul. Um raio de sol rompe as nuvens sobre mim, e sinto uma mão no meu ombro. Fecho os olhos: _Você não é real, não quero sair – eu digo num sussurro. A presença se vai e me deixa sozinho novamente.

Sento-me, olho pro mar. As ondas aumentam e diminuem ao sabor do vento. Saco do bolso um caderno surrado, mas não encontro caneta. Volto a escrever na areia com um sorriso conformado, enquanto o vento apaga minhas palavras mais antigas. O vento apaga minhas memórias, e nenhuma marca deixo na areia e no oceano. Exceto por uma ou duas gotas salgadas como o mar que o sol se encarrega de secar.

Tomas Antônio Ferreira

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