segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pseudônimos: Provas de existência

Com aquele familiar nó na garganta, sentou-se de pernas cruzadas sobre a cama, com um pequeno caderno do colo. Já passara da meia noite, teria que acordar cedo no outro dia, mas o sono lhe fugia. Sabia que só dormiria se desabafasse o que sentia, e sabia também que não conseguiria conversar com ninguém. Além do mais, quem haveria pra ele conversar? Eram coisas do coração, coisas inconfessáveis para qualquer um. Havia algumas pessoas que talvez se importassem, mas não podia contar com elas... A mãe o sufocaria, e os amigos mais confiáveis provavelmente não o entenderiam. Ora, se ele mesmo não entendia, como esperaria isso de alguém?


Por isso confiava e mantinha aquele pequeno caderno... Algumas folhas, já amarelas pelo tempo, estavam escritas com a caligrafia incerta e tremida que tinha na infância... A primeira data era de 1999, quando tinha apenas oito anos... Desde aquela época guardava aquele pote de segredos com a vida. Ao folhear, viu algumas folhas marcadas com lágrimas, e se lembrava com exatidão o sentimento daqueles momentos que o fizera escrever. Eram em grande parte, versos simples e narrações fictícias... Era mais fácil encarar a realidade com ficção.


Sabia que aquele caderno lhe fazia mal. O fazia reviver seus piores momentos, porque só nos piores o procurava... Mas, mais do que isso, era um diário de suas desgraças e o protegia de sentimentos desnecessários. Não de todo, mas o deixava prevenido de que o pior pode sempre acontecer. E sempre acontecia.


Deitado de bruços, pegou a caneta promocional que morava embaixo de sua cama e começou a escrever. Não se preocupou com o que escrevia, e apenas foi jogando com força as palavras que se desenhavam em sua mente. Essa era sua habilidade, escrevia com o coração... Confessava à tinta o que não confessava a si mesmo. Mais do que isso, era sua alma que estava sendo passada a limpo. Seus medos e horrores era absorvidos pelo papel e clareavam sua mente, não o fazendo pensar melhor, mas sim o absolvendo de ter que pensar.


Sentia a caneta em seus dedos, e a ouvia voar pelo papel na noite silenciosa. Às vezes fechava os olhos e as palavras escorregavam um pouco para baixo da linha, mas não havia problema, não era destinado a ninguém.


“(...) e o horror do infinito que se finda,

e a esperança, essa doentia, que não nos abandona.”


Encerrou e ficou olhando para o papel. Tinha escrito frente e verso de uma página; frases soltas e afirmações confusas sobre paixões antigas, saudades, solidão e ódio...


Tinha uma beleza melancólica, e por um instante ficou triste por saber que nunca ninguém leria. Mas era o certo, e o momento de destruir a prova de sua existência se aproximava. Nunca se imaginou guardar aquele caderno pra sempre, e o que ele impôs já estava acontecendo. Logo seria o momento para abandonar de vez esse seu lado deveras emocional e tornar-se a pessoa fria e desinteressada que jurara que nunca seria.

Mas era a evolução natural, ou se adapta ao que vive, ou mata-se para se juntar ao infinito...


Estava um tanto cansado, sim, mas não apressaria sua hora. Ao menos não essa noite.


Adormeceu, e sonhou com o paraíso... Verde e acolhedor...

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossaaa... chega a ser inspirador ler o que você escreve... pena não ter esse dom... Parabéns pelos posts, tem escrito muitoo bem...

se cuida (como sempre)

Bjoo

MiiH disse...

AAH esse é o mais lindo *-*