O Menino e o Coração
Em algum lugar, algum tempo atrás ou um pouco depois, num reino de algum rei morava um menino e seu coração.
Desde que o menino nascera eram grandes amigos. Havia segredos que o menino só revelava para o coração e coisas que só o coração podia explicar para o garoto.
Eis que um dia chega o garoto aflito, já beirava os 13 anos de idade, e diz para o coração:
- Preciso te contar uma coisa que aconteceu hoje.
E prosseguiu contando ao coração, que ouvia a tudo calado, que naquela tarde tinha conhecido uma garota linda, com uma voz doce, delicioso perfume e de sorrisos e olhares fascinantes.
Depois disse também, com certa alteração da voz e olhares vagos, que sentiu um arrepio diferente e estranho no corpo por estar perto dela:
- Estranho, mas é gostoso – foram suas palavras.
- Isso é o amor – disse finalmente o coração, abrindo a boca pela primeira vez.
O menino, que nunca tinha ouvido aquela palavra antes e tampouco imaginava o que poderia significar, perguntou com a típica voz do leigo ao médico após o diagnóstico:
- O que é isso? É grave?!
Por sua vez o coração riu da inocência do garoto e, pai e grande especialista no assunto que é, pôs-se logo a explicar:
- Tenha calma garoto, amor não é doença embora muitos pensem assim quando o confundem com a paixão. O amor, no teu caso, é o que leva duas pessoas a namorar, casar, ter filhos e viver junto, uma da outra, para sempre.
Essas palavras surtiram o efeito contrário do que seria lógico e só fizeram aumentar ainda mais a sombra das dúvidas na cabeça do garoto, mas agora ele estava eufórico, não pelas dúvidas que inundavam sua cabeça, mas pela idéia que havia acabado de ter enquanto ouvia o coração e pensava na menina: daria a ela um presente especial e, se ela gostasse bastante, eles provavelmente se tornariam grandes amigos, assim como ele era do coração, e isso o deixaria muito contente.
Então disse:
- Eu não entendi exatamente o que significa esse tal de amor que leva as pessoas a fazerem tantas coisas, gostaria de saber da onde vem e como ele funciona, mas você vai ter que me responder isso mais tarde, pois agora eu tenho que colocar em prática uma idéia que tive e que não pode esperar.
Antes que o coração pudesse objetar qualquer coisa o garoto virou-lhe as costas e saiu, invadido por uma excitação crescente, atrás do presente para a garota.
Ele vagou por todos os cantos da cidade e por todos os bosques que a rodeavam em busca do presente especial, encontrou várias coisas, mas julgou tudo o que encontrara longe do que havia imaginado para menina. Já no final da tarde, triste por não ter encontrado o que gostaria e muito cansado ele teve uma idéia que poderia funcionar. Pensou “Vou dar meu coração para a garota, pois ele sempre foi meu grande amigo, escuta meus desabafos, me ensina muitas coisas além de confortar, certamente que com ela não será diferente e a partir de então poderemos, nós três, aproveitar todos os dias juntos”. Mas a euforia da idéia começou a passar com a mesma velocidade que viera e o garoto ficou triste novamente, o motivo: não sabia se o coração aceitaria ser dado de presente à outra pessoa. Porém, depois de refletir um pouco, concluiu que a idéia era boa demais para ser desperdiçada e diante do impasse por não ter arrumado outro presente especial, iria mesmo dar seu coração à garota. Arquitetou então um plano.
E naquela mesma noite colocou-o em prática.
Chegando a sua casa o garoto nem falou com o coração com medo de estragar sua estratégia, aquelas dúvidas da tarde ainda o incomodavam, mas pensou que poderiam continuar a conversa sobre o amor no dia seguinte, durante a tarde, quando ele, o coração e a garota já estariam gozando os prazeres da grande amizade que certamente estava para nascer entre os três.
Naquela noite o coração não demorou a adormecer, então o garoto iniciou o que havia resolvido levar até o final, colocou o coração dentro de uma caixa muito bonita, trancou com um laço, pôs um cartão que identificava o remetente e deixou o embrulho em frente à casa da menina. Depois foi para a sua dormir.
Nessa noite o menino não sonhou, nem nas noites que se seguiram.
Infelicidade ou não, a garota que ganhou o coração estava de mudança justamente no dia da manhã que encontrou o pacote. Para onde ela foi ou o que fez com o coração ninguém sabe, no começo o garoto nem se importou, pois não mais sentia aquele estranhamento gostoso, mas depois reparou que não era só aquela a ausência deixada pelo coração e isso fez dele uma pessoa infeliz.
Dizem que o garoto parece sempre estar contente, embora ele e algumas pessoas mais próximas saibam (algumas apenas desconfiam) que lhe falta algo por dentro.
Hoje ele vaga pelo mundo sem ter coragem de perguntar a alguém o que é o amor e todas aquelas outras palavras que o coração lhe dissera no dia antes de partir para todo o sempre sem ter tido a oportunidade de explicar. Ele não pergunta pra ninguém por considerar que os que amam, únicos capazes de explicar (exceto o coração), agem de forma demasiada insensata para gerarem uma resposta coerente.
Talvez algum dia o menino, agora já crescido, encontre a garota que sumiu com o seu coração ou alguma outra que esteja disposta a presenteá-lo com um coração que saiba as mesmas respostas daquele que se perdeu e possa ser realmente feliz mais uma vez.
Enquanto isso não acontece ele vive, vive, vive…
Moral da estória:
“Nunca dê seu coração para ninguém antes de saber
realmente o que é o amor”
Se quiser dar uma olhada no site é o Puta Nhaca... Nome esquisito, hein!!!
Um comentário:
realmente... cuidado ao "amar" alguém, pois esse amor pode naum ser correspondido. =/ E esquecer um amor e muito mais difícil!!!
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